Recentemente me deparei com uma situação que gerou polêmica nas redes sociais: um garotinho não fez a tarefa da aula de Educação Física e, como consequência, o professor pediu que ele desse 10 voltas na quadra. Rapidamente, o caso viralizou. E como tudo hoje em dia, foi dividido entre os que acharam um absurdo e os que disseram: “tá certíssimo!”
Bom, se você está lendo essa coluna, já deve imaginar de que lado eu tô. Mas calma, antes de qualquer julgamento, deixa eu te explicar meu ponto de vista. Sou personal trainer, trabalho com educação do corpo, com esforço físico, com construção de disciplina. E pra mim, a atitude do professor não foi exagerada, foi educativa.
A verdade é que, hoje em dia, virou moda tratar qualquer esforço como punição. E isso não só enfraquece a educação física como disciplina, como também contribui pra uma geração que foge do desconforto o tempo todo. Educação física é aula. Não recreio e vamos começar por aí.
A aula de Educação Física tem objetivo, tem conteúdo, tem propósito. Não é só “brincar de queimada” ou “fugir do futebol”. Ela desenvolve coordenação motora, trabalho em equipe, noção de espaço, resistência física, além de ajudar a prevenir doenças ligadas ao sedentarismo.
Quando uma criança não faz a tarefa de matemática, ela recebe uma advertência, perde nota ou leva bilhete na agenda. Por que, então, quando o conteúdo envolve o corpo, a responsabilidade desaparece?
Fazer 10 voltas na quadra não machuca ninguém. Não é humilhação, não é tortura, não é castigo no sentido cruel da palavra. É só uma consequência física de uma escolha feita — e, cá entre nós, das mais leves. Tem treino que é bem mais puxado que isso, e ninguém morre por causa disso. Muito pelo contrário: o corpo agradece.
A tal da “geração Nutella” e o medo do esforço
Eu cresci ouvindo que “quem não aprende pelo amor, aprende pela dor”. E embora essa frase possa parecer pesada nos dias de hoje, ela ainda tem uma verdade: a vida ensina. Nem sempre da forma mais confortável.
O problema é que a nova geração foi ensinada a fugir de qualquer tipo de desconforto. Sente uma dorzinha? Já é motivo pra parar. Se frustra? Já quer desistir. Toma um “não”? Já se sente injustiçado.
E o mais curioso: muitos desses comportamentos vêm não das crianças, mas dos adultos que criam elas com medo de deixá-las “tristes”. Mas eu te pergunto: é melhor uma criança chateada por correr 10 voltas ou um adulto que não sabe lidar com nenhuma frustração na vida?
Movimento é remédio. E também é lição. Como personal, vejo isso todos os dias: gente que evita o esforço, que chega cheia de medo de suar, de sentir dor, de se cansar. E normalmente são adultos que, lá na infância, associaram esforço físico com castigo, punição ou vergonha.
Agora, olha que oportunidade o professor deu: ao invés de dar uma advertência fria ou apenas deixar passar, ele colocou o corpo em movimento. Ele mostrou que o corpo pode — e deve — ser usado pra ensinar. E talvez o que o garotinho aprendeu naquele dia vá muito além da lição da tarefa não feita. Talvez ele entenda que responsabilidade também envolve o corpo. Que esforço não mata. Que a vida cobra, sim, mas nem sempre de forma ruim.
Pra encerrar…
Antes de apontar o dedo pro professor, acho que a gente precisa olhar pra essa geração e se perguntar: estamos criando crianças preparadas pra vida real? Porque a vida vai cobrar. Vai ter esforço, vai ter desconforto, vai ter cansaço. E se a criança não aprende isso de forma leve e segura, na escola, com um professor por perto, vai aprender na marra, lá na frente, com boletos, frustrações e dores mais difíceis de curar.
Então sim, professor, continue pedindo voltas na quadra. Continue ensinando com o corpo. Continue mostrando que a educação física é tão séria quanto qualquer outra disciplina. E pra essa nova geração? Bora levantar do sofá, encarar o suor e entender que esforço é uma forma de respeito. Respeito pela aula, pelo corpo e pela vida.
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Exercícios físicos
Com anos de experiência transformando vidas, Luiz Otávio é personal trainer e instrutor na Academia AD3. Apaixonado por performance e bem-estar, também se destaca como atleta de natação do Clube 29. Aqui, ele vai compartilhar dicas valiosas para melhorar seus treinos, sua saúde e sua qualidade de vida. Fique ligado!