'Musica é arte é energia que cria conexão entre todas as pessoas', diz Afonso da Luz Loss, que mora em Balneário Camboriú.
A vibração da música sempre esteve presente na vida de Afonso da Luz Loss. Desde mais jovem, ele frequentava as noites de festas e dois amigos DJs despertaram a curiosidade dele para a profissão. Surdo, Afonso foca na vibração e expressão visual da música. E tem um projeto para criar espaços inclusivos em baladas, festivais e shows e unir surdos e ouvintes em uma experiência artísticas.
O DJ Aloss, como é conhecido, tem 40 anos e nasceu em Porto Alegre. Morou por 13 anos em Florianópolis e há quatro meses está na badalada Balneário Camboriú, no Litoral Norte de Santa Catarina. Além de DJ, Afonso também é professor da Língua Brasileira de Sinais (libras).
Ele contou sobre a surdez e como a paixão pela música e profissão começaram. "Sou surdo de nascença, através de genética. Tenho pai surdo, irmão surdo, tios, primos surdos".
"Minha relação com a música é desde adolescente. Frequentava as noites de Porto Alegre e tinha dois amigos DJs. Volta e meia entrava nas cabines de DJ deles, sempre na curiosidade de saber como funcionava, pois na época não tinha a tecnologia que tem hoje", contou.
Ele explicou também como é curtir o som para um surdo. "Sinto a música através da vibração. Na época de Porto Alegre, nas festas e baladas sempre ficava perto das caixas de som para sentir melhor a vibração e ritmo das musicas".
"Para nós surdos, a vibração e expressão visual da música são fundamentais para sentir a energia. Já para ouvintes, é através do som da voz", elaborou.
Ele começou a carreira como DJ na pandemia, mas já tinha a experiência de fazer festas inclusivas. "Já tem mais de 12 anos que eu organizo eventos sociais para a comunidade surda. Teve época que organizava festas em Florianópolis uma vez por mês a cada boate ou bar diferente. Vinham surdos de vários estados", contou.
Essas festas foram o início de um desejo dos espaços inclusivos. "A ideia de tornar as baladas inclusivas já vinha desde a época em que eu organizava festas, eventos socias para a comunidade surda. Criei o nome de DNL (Deaf Night Life). Uma vez por mês, fazia as festas em um bar diferente e lotava as casas", contou.
"Vemos pessoas ouvintes cantando com uma sensação de êxtase da música, mas nós surdos percebemos a música de um jeito diferente, e então queria que também sentissem essa sensação", resumiu.
A ideia dos espaços inclusivos é serem focados na vibração e também em formas de expressar visualmente a música.
"Os ouvintes também podem participar, sentir a sensação e entender o mundo surdo, pois também estarão experimentando uma nova experiencia, de conhecer a energia das músicas".
Afonso vai apresentar o projeto em um festival em Florianópolis nesta quinta (9) e sexta (10). O espaço inclusivo será chamado "DEA(F)". "Significa Deaf experiencie Art (festival). Pois não é apenas para nós surdos, mas para que todos possam sentir a mesma sensação, a mesma experiência".
"Que esse projeto se torne realidade em todos os cantos do mundo, por assim não vamos excluir ninguém. Afinal, a música é arte, é energia que cria conexão entre todas as pessoas, sejam surdas ou ouvintes, permitindo que ambos compartilhem uma experiência artística".
Um detalhe tecnológico trouxe o despertar de Afonso para a carreira de DJ. "Lendo na internet me deparei com a informação sobre a tecnologia da mesa de mixagem, que dava para fazer a 'leitura' da música, o que antigamente não tinha. Daí não pensei duas vezes e já procurei escolas de DJs", disse.