A mãe revela que a filha sofre racismo por parte dos colegas há 5 anos e que a professora chama a aluna de "burra" na frente da classe
Josiele Aparecida da Rosa, de 37 anos, denunciou o racismo de uma professora branca contra sua filha, de 10 anos. Os casos ocorriam na Escola de Educação Básica Tenente Almáchio, no bairro Tapera, em Florianópolis. A mãe conta que a professora comete bullying e racismo contra a estudante há seis meses. Em uma aula, a menina tentou abraçar a docente, que a empurrou. “Sai para lá, macaca”, teria dito a professora na ocasião.
Ela ainda teria chamado a aluna de “burra” na frente dos colegas e zombou de suas roupas, que são emprestadas da mãe. Segundo Josiele, a professora também imitou o andar manco da menina, que caminha torto devido a um problema nas pernas. “Ela fez como se fosse um desfile no meio da sala, e todo mundo riu”, lamenta a mãe.
A família percebeu que algo estava errado quando a filha, que sempre gostou de estudar, passou a insistir para faltar aula. “Todo dia ela chegava chorando da escola, se ajoelhava e implorava para não ir para o colégio”, conta Josiele. “Ela nem comia, chegava e ia para debaixo das cobertas chorar”.
O racismo afetou os estudos e a menina desaprendeu a ler. Quando os pais foram tirar satisfação na escola, a professora alegou que a aluna era “mentirosa”. A direção da EEB Tenente Almáchio não acolheu a denúncia e teria dito para os pais “se mandarem” dali. “Tratou a gente que nem cachorro, isso me revoltou muito”, lembra a mãe.
Após a discussão, Josiele e o marido José foram direto para a delegacia registrar boletim de ocorrência, no dia 1º de outubro. A menina e o irmão mais novo, de 9 anos, estão sem ir para a aula desde então.
Menina sofre racismo de colegas na escola há 5 anos, afirma mãe
A menina está na 5ª série e estuda há cinco anos na escola estadual. A mãe revela que a filha sofre racismo “desde a segunda semana de aula”, mas a família ainda não havia denunciado porque as injúrias raciais eram cometidas por outras crianças. “Mãe, eu não aguento mais, ninguém gosta de mim, todo mundo me chama de nega, de macaca, de sagui, de café com leite”, contou a filha, chorando.
A aluna ainda sofre agressões por parte dos colegas, que são em sua maioria brancos. Certa vez, um garoto a fez tropeçar e bater a cabeça no chão. O impacto abriu uma ferida na testa e os pais tiveram que levá-la para o hospital. “Minha menina tem as pernas marcadas de tanto derrubarem e chamarem de macaca. Eu falei: vocês vão matar minha filha”, protesta a mãe.
Ela observa que a menina desenvolveu depressão devido aos ataques. A própria Josiele, que tem epilepsia, passou a ter crises mais frequentes em razão do estresse. A família afirma que procurou a SED (Secretaria de Estado da Educação) de Santa Catarina, mas os servidores responderam que não poderiam ajudar.
“Minhas crianças têm direito de estudar. Eu quero Justiça para a minha menina, porque já aprontaram um monte comigo e não vou deixar isso acontecer com a minha filha”, reivindica a mãe.
A EEB Tenente Almáchio optou por não comentar a situação. Já a SED mandou a nota abaixo sobre o caso:
“A Coordenadoria Regional de Educação de Florianópolis esclarece que o setor do Núcleo de Educação, Prevenção, Atenção e Atendimento às violências (NEPRE) teve conhecimento de situação de violência ocorrida na EEB Tenente Almachio, a partir do registro no NEPRE on-line e realizou desde então o acolhimento do caso.
O NEPRE recebeu os registros da escola, entretanto não houve evidências de possível situação de racismo até o presente momento. O NEPRE segue acompanhando e conduzindo as ações no sentido de garantir a mediação do conflito e o reequilíbrio das relações interpessoais entre os envolvidos”.