A neuropsicopedagoga reconhece que a tecnologia, quando usada de maneira adequada, pode ser uma ferramenta importante para o aprendizado. Contudo, o equilíbrio é essencial
A tecnologia tem transformado cada vez mais a infância e o uso de dispositivos eletrônicos, como celulares, tablets e videogames, tornou-se parte do cotidiano. Embora esses recursos ofereçam oportunidades educativas e recreativas, o uso excessivo pode trazer consequências negativas para o desenvolvimento infantil.
Para a neuropsicopedagoga Débora Virtuoso, é fundamental que os pais estejam atentos aos sinais de dependência tecnológica e incentivem atividades que promovam interações e momentos simples, fundamentais para o crescimento saudável. Ela alerta que o uso excessivo dos dispositivos eletrônicos pode comprometer o desenvolvimento de habilidades sociais, como a comunicação e a empatia.
As interações presenciais, como brincadeiras com outras crianças ou atividades em família, são fundamentais para o aprendizado. “Sem esse contato direto, a criança pode ter dificuldades em se conectar emocionalmente com os outros”, ressalta.
Além disso, o uso prolongado das telas pode levar à falta de autorregulação emocional. As crianças, habituadas à gratificação imediata dos jogos e mídias digitais, podem desenvolver uma baixa tolerância à frustração em situações cotidianas. A neuropsicopedagoga também menciona que a exposição excessiva à tecnologia pode aumentar o risco de isolamento social, ansiedade e até depressão.
Outro ponto levantado é a interferência no sono. “A luz emitida pelos dispositivos, por exemplo, pode causar distúrbios no sono, prejudicando o desempenho cognitivo e emocional da criança”, afirma. O uso de telas antes de dormir interfere no ciclo natural do sono, dificultando a rotina de descanso e, consequentemente, impactando a qualidade de vida.
Um dos efeitos mais preocupantes é a diminuição do tempo dedicado a atividades que estimulam a imaginação e a criatividade. A especialista explica que as brincadeiras simbólicas, como inventar histórias ou explorar ambientes, são essenciais para o desenvolvimento criativo da criança. “A criatividade nasce da exploração do ambiente físico e sensorial. Quando a criança fica imersa nos dispositivos, ela perde essas oportunidades”, diz.
Sinais de dependência tecnológica
Os pais devem estar atentos a sinais de dependência tecnológica. “Irritabilidade, problemas de sono, desinteresse por atividades ao ar livre e dificuldades de atenção são indícios de que a criança pode estar passando muito tempo em frente às telas”, observa Débora.
O uso descontrolado da tecnologia pode, inclusive, afetar o desempenho escolar, já que prejudica a concentração e a capacidade de manter o foco em atividades mais prolongadas.
Para equilibrar o uso da tecnologia com atividades saudáveis, Débora sugere estabelecer limites claros. “Definir tempos diários de uso é fundamental para garantir que a criança tenha tempo suficiente para interações presenciais e atividades físicas”, orienta.
Ela também ressalta a importância de rotinas que envolvam brincadeiras ao ar livre e momentos em família. “Levar a criança para explorar um parque, praticar esportes e participar de piqueniques são formas de criar laços familiares e fortalecer o desenvolvimento motor e cognitivo”.
A neuropsicopedagoga reconhece que a tecnologia, quando usada de maneira adequada, pode ser uma ferramenta importante para o aprendizado. Contudo, enfatiza que o equilíbrio é essencial. “Tudo em excesso atrapalha. A tecnologia pode ser benéfica, mas é fundamental que as crianças também tenham acesso a atividades que estimulem a criatividade e o contato com o mundo real”.
“Incentive jogos que despertem a curiosidade e a conexão com a natureza, além de opções como jogos de tabuleiro, quebra-cabeças e brincadeiras em grupo. Muitas atividades tradicionais, como amarelinha, pega-pega e queimada, que marcaram a infância de gerações passadas, estão desaparecendo, pois, as crianças de hoje muitas vezes não têm contato com essas experiências. Resgatar essas brincadeiras é uma forma de preservar a cultura lúdica e transmitir esse legado”, lembra.
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