Tá puxado, sim.
Tá puxado ser adulto consciente em meio a uma juventude largada, desinformada e hipersexualizada.
Tá puxado ver adolescente engravidando em roleta-russa de p@u, como se corpo fosse passatempo e gravidez castigo.
Tá puxado saber que festinha de aniversário agora tem “atração especial”: uma profissional do sexo contratada por menores de idade, como se fosse delivery — só que sem camisinha, sem consciência, sem noção.
Tá puxado ser mulher que insiste em falar de educação sexual e ainda ouvir que isso “incentiva a promiscuidade”.
Tá puxado ser mãe, professora, psicóloga informal, enquanto os adultos de verdade fogem da conversa difícil.
Preferem fingir que tá tudo certo. Preferem blindar a reputação do que proteger os filhos.
Tá puxado ver o silêncio onde deveria haver orientação.
Tá puxado ver adolescente aprendendo sobre sexo na pornografia, nos vídeos do TikTok, no grupinho de WhatsApp.
Aprendendo errado, sem respeito, sem proteção, sem preparo.
E depois a conta vem — com nome, exame positivo e trauma.
Mas aí é tarde.
Cadê o adulto disponível?
Cadê a escola que educa pra vida?
Cadê os pais que entendem que falar de sexo é salvar vidas, não estimular o ato?
Onde estão aqueles que deveriam ser os guias, os responsáveis pela formação moral e emocional dos jovens? Onde estão os que podem fazer a diferença com uma palavra, com um gesto, com uma orientação verdadeira e sem tabus? Porque, na real, sexo não é sobre proibição, é sobre escolha, é sobre consentimento, é sobre responsabilidade.
Falar sobre sexo é dar poder ao jovem para que ele faça escolhas conscientes, para que ele saiba o que fazer quando o corpo, a mente e os sentimentos se entrelaçarem. Falar sobre sexo é ensinar respeito, é ensinar limites, é ensinar o que significa estar de bem consigo mesmo e com o outro.
Mas enquanto o silêncio for a resposta, enquanto os pais se esconderem atrás do medo de perderem a autoridade, enquanto a escola fugir da conversa por medo de desconforto, estaremos criando gerações inteiras sem as ferramentas necessárias para lidar com as próprias emoções, com o próprio corpo, e com as consequências de suas escolhas.
A realidade bate à porta, e o que era para ser um aprendizado digno, saudável e responsável, se transforma em uma roleta russa de riscos e ignorância.
Cadê o adulto disponível? Onde estão as pessoas dispostas a enfrentar o desconforto do tema para salvar vidas, para proteger a saúde emocional e física de quem ainda está em formação? A ausência de educação sexual adequada não só expõe, como também destrói possibilidades de um futuro mais consciente, mais livre e mais seguro.
Seja o adulto disponível.
Seja a escola que educa para a vida.
Seja o pai ou a mãe que se atreve a conversar, a orientar, a proteger.
Porque se não formos nós, quem será?

Sexóloga
Sexóloga, especialista em relacionamentos, professora de artes sensuais, ativista no combate à violência doméstica, colunista social e comunicadora de tv e rádio.