O timing do homem e o timing da mulher são dois relógios que nunca foram fabricados na mesma fábrica. Enquanto o dele desperta fácil, quase como um interruptor aceso ao menor sinal de luz, o dela é mais parecido com um nascer do sol: exige tempo, temperatura, clima, paciência e intenção.
Eles dizem que estão prontos para o sexo o tempo todo. E talvez estejam mesmo. O corpo masculino funciona como uma urgência: rápido para reagir, veloz para desejar, simples para acender. Já o corpo feminino… ah, esse é cheio de camadas. Não basta um toque, não basta um corpo nu, não basta boa vontade. A mulher não se excita por impacto: ela se excita por contexto.
Para ela, excitação não é só biologia. É ambiente, é energia, é afeto, é cheiro, é palavra, é respeito. É a soma de tudo que veio antes. É como se, antes do corpo, precisassem tocar na alma. Porque mulher não gosta apenas de sexo: gosta de sentir que é desejada por inteiro, sem pressa, sem atalhos, sem superficialidade.
Por isso o tempo deles parece sempre mais curto, e o delas mais longo. Ele quer agora. Ela quer presença. Ele quer o ato. Ela quer o enredo. Ele acende no corpo. Ela acende no coração, na cabeça, no que disseram durante o dia, no que não disseram, no abraço que ficou mais demorado, no cuidado que passou despercebido, no respeito que se tornou rotina.
No fundo, nenhum dos dois está errado. São só lógicas diferentes pedindo tradução. E quando um homem aprende a falar o idioma do desejo feminino — devagar, constante, atento, inteiro — descobre que o tempo dela não é atraso: é profundidade.
E quando a mulher entende que a urgência masculina não é desrespeito, mas natureza, ela passa a negociar ritmos, não culpas.
O amor é isso: dois relógios que batem diferente tentando encontrar, todos os dias, um minuto em comum.
✍🏼Sibéle Cristina Garcia

Sexóloga
Sexóloga, especialista em relacionamentos, professora de artes sensuais, ativista no combate à violência doméstica, colunista social e comunicadora de tv e rádio.