A história começa com o frio na barriga, a adrenalina de um segredo bem guardado. Um sorriso trocado nos corredores, uma mensagem inesperada no meio da tarde. E, antes que percebam, ali estão os dois, apaixonados e convencidos de que “isso” é diferente. Afinal, ninguém conhece o outro tão bem quanto eles. É o que dizem: encontraram alguém que realmente os entende, e essa conexão única parece justificar tudo.
Só que há algo no começo das coisas. Uma relação que nasce de uma traição carrega consigo um pacto silencioso, mas inevitável. Uma promessa não dita, um compromisso com a duplicidade. Quem começou no papel de cúmplice agora veste o manto do “oficial”, mas será que o lugar é seguro?
No fundo, eles sabem. Sabem que aquilo que os uniu foi, justamente, o que desmoronou o relacionamento anterior. Dizem que é a “força do amor”, mas, em momentos de reflexão, aparece uma pergunta incômoda: o que impede que a história se repita? A resposta, por mais que tentem, nunca é completamente convincente. O fantasma da traição passada está ali, rondando, espreitando entre as brechas de uma relação que, por mais apaixonada que seja, ainda tem algo de frágil.
Porque a traição é um eco. Uma semente que, uma vez plantada, precisa de um esforço contínuo para não germinar. Mas o problema é que nem sempre quem traiu e quem foi cúmplice se dá conta disso. Muitas vezes, acham que o compromisso novo apagou o rastro do anterior, que o amor ou a atração são o suficientes para selar uma nova página em branco.
Só que o eco não se apaga com promessas. Ele se instala nas inseguranças, nos silêncios estranhos, nos olhares rápidos para o celular. Surge quando menos se espera, nas noites de ciúme ou nas discussões que reacendem o medo de que, talvez, um ciclo esteja prestes a recomeçar. A confiança, que deveria ser a base, acaba contaminada, porque o passado é uma marca que não se apaga tão facilmente.
Isso não quer dizer que toda relação que nasce assim esteja condenada. Pessoas mudam, aprendem, e, em alguns casos, o amor se reinventa. Mas, ainda assim, o eco está lá, exigindo atenção, pedindo trabalho. Uma relação que começa sobre as ruínas de outra precisa de muito mais cuidado para não desmoronar. Ela precisa ser reconstruída desde o alicerce, com verdade, paciência e muito mais do que o desejo inicial.
Para alguns, o eco da traição pode ser um lembrete constante de suas escolhas, um chamado a construir algo mais forte e real. Para outros, é um ruído persistente, a sussurrar que o passado não ficou tão para trás quanto gostariam de acreditar. Afinal, a confiança é como um espelho: uma vez quebrada, os cacos podem ser colados, mas a linha da fissura permanece.
E, quem sabe, talvez o eco seja, afinal, um aviso silencioso. Um convite para repensar os caminhos e reconhecer que a verdadeira fidelidade talvez não seja ao outro, mas a si mesmo. Porque, em meio a todos os reflexos, o que mais importa é a imagem que cada um enxerga de si quando tudo se silencia.
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Sexóloga
Sexóloga, especialista em relacionamentos, professora de artes sensuais, ativista no combate à violência doméstica, colunista social e comunicadora de tv e rádio.