Antigamente, as festas eram um palco de olhares, sorrisos e aproximações. O coração acelerava com o simples cruzar de olhos, e a paquera fluía como parte natural da noite. Bastava um “oi” desajeitado ou um convite para dançar e a magia acontecia. Mas hoje, o cenário mudou. As festas estão cheias, a música alta, os copos nas mãos, mas algo parece faltar. Por que ninguém chega mais em ninguém?
Talvez seja a velocidade do mundo moderno. Com o deslizar do dedo na tela, a conquista se tornou instantânea. Aplicativos de namoro substituíram o frio na barriga de um flerte ao vivo. Agora, tudo é seguro, controlado. Você vê, curte, conversa e, se der match, aí sim rola o interesse. Mas e a espontaneidade? Aquela faísca que só nasce do contato real, do jogo de olhares na pista de dança, do improviso? Ela está se apagando.
Há quem diga que o medo do fracasso aumentou. A rejeição, que antes era parte do jogo, agora ganhou um peso quase insuportável. Ninguém quer se expor ao risco de ser ignorado ou levar um “não” cara a cara. E assim, ficamos cada vez mais protegidos, escondidos atrás das telas, num mundo onde o desconforto é evitado a qualquer custo. Paquerar exige vulnerabilidade, e parece que nos esquecemos de como é deixar o coração à mostra.
Outro ponto é que estamos tão conectados virtualmente, que nos distanciamos fisicamente. Estamos na festa, mas ao mesmo tempo, não estamos. As pessoas olham mais para o celular do que umas para as outras. Checar notificações virou um refúgio social, uma forma de escapar do momento presente, da ansiedade do encontro real. Enquanto isso, o flerte fica em suspenso, perdido entre a tela e a realidade.
E não podemos esquecer que as relações mudaram. Há uma busca crescente por autenticidade, por profundidade. A conversa rápida e casual da paquera, muitas vezes, parece rasa demais para a complexidade dos tempos atuais. As pessoas querem mais que uma troca de sorrisos e palavras ensaiadas; querem conexões verdadeiras. E em meio a essa busca por sentido, a leveza do “chegar em alguém” vai se perdendo.
Mas a verdade é que, em meio a todas essas mudanças, a essência do encontro continua ali, esperando. A paquera pode ter mudado de ritmo, mas ela não morreu. Talvez esteja só adormecida, aguardando o momento em que alguém se desprenda da segurança do virtual e arrisque, mais uma vez, o flerte cara a cara, o frio na barriga, a possibilidade do inesperado.
Porque, no fundo, ainda queremos ser vistos. Queremos aquele olhar que nos atravessa no meio da festa, aquele sorriso que acende algo dentro de nós. O que falta é a coragem para sair das sombras digitais e voltar a viver o improviso da vida real. Talvez as festas só precisem disso: de menos distração, menos medo, e mais gente disposta a se encontrar de verdade.
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Sexóloga
Sexóloga, especialista em relacionamentos, professora de artes sensuais, ativista no combate à violência doméstica, colunista social e comunicadora de tv e rádio.