Vivemos tempos em que, mais do que nunca, somos lembrados de nossa responsabilidade coletiva. “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, já dizia Antoine de Saint-Exupéry, mas em nossa realidade política, essa frase se transforma em algo ainda mais pungente: “tu te tornas eternamente responsável por aqueles que eleges”.
Elegemos representantes, pessoas que, na teoria, deveriam ser a extensão de nossas vontades, sonhos e valores. Mas será que, ao colocarmos nossos votos na urna, estamos plenamente conscientes da profundidade desse ato? Mais do que um número na contagem, o voto é um pacto com o futuro, uma assinatura de coautoria em tudo que vem a seguir. Cada decisão que nossos representantes tomam, cada lei que aprovam, cada política que implementam, tudo carrega o peso da nossa escolha.
Ao eleger alguém, damos a essa pessoa a permissão de governar em nosso nome. E é aqui que surge a responsabilidade eterna. Porque, independentemente de onde estivermos depois do ato de votar, as consequências reverberam. Elas não batem apenas na porta da política, mas nas nossas portas também, invadem nossas casas, afetam o que comemos, como vivemos, como trabalhamos, como sonhamos.
Mas o que fazemos com essa responsabilidade? Quantas vezes, ao longo dos anos, refletimos sobre os caminhos que ajudamos a traçar com nossas escolhas? É fácil, muitas vezes, transferir a culpa, dizer que não tínhamos outra opção ou que fomos enganados. É mais fácil culpar o “sistema”, a “corrupção”, os “poderosos”. Difícil é assumir que, em algum ponto, nós os colocamos ali. E se eles falham, falhamos juntos.
Não se trata de viver sob uma culpa eterna, mas de entender o quanto cada decisão que tomamos, por menor que pareça, tem um impacto profundo e duradouro. Elegemos não apenas pessoas, mas também futuros. Cada líder é um reflexo do que aceitamos, do que toleramos, do que esperamos. E se somos eternamente responsáveis por aqueles que elegemos, então somos também responsáveis por mudar o curso quando necessário.
A política, muitas vezes, nos parece distante, uma esfera intocável, onde grandes decisões são feitas por pessoas que não conhecemos de verdade. Mas essa distância é ilusória. Somos parte do processo. Somos parte da mudança – ou da estagnação. E, se negligenciamos essa responsabilidade, os ecos disso se fazem ouvir nas escolas que não têm recursos, nos hospitais que não conseguem atender, nos direitos que são retirados silenciosamente.
Então, talvez seja hora de pensarmos de forma mais profunda sobre a responsabilidade que carregamos. Porque a escolha que fazemos numa eleição, ainda que pareça um momento breve e isolado, não termina quando fechamos a cortina da cabine. Ela se estende, invade gerações, molda o presente e o futuro. Tu te tornas eternamente responsável por aqueles que eleges, e essa é uma verdade que não podemos mais ignorar.
Afinal, o que será que estamos cativando com nossas escolhas? Que mundo estamos ajudando a construir, e que legado estamos deixando? Ao final de tudo, resta uma reflexão inescapável: não podemos fugir da responsabilidade que é, também, um privilégio. Que possamos, então, cativar o melhor possível, porque esse futuro será, inevitavelmente, o que escolhemos juntos.
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Sexóloga
Sexóloga, especialista em relacionamentos, professora de artes sensuais, ativista no combate à violência doméstica, colunista social e comunicadora de tv e rádio.